quinta-feira, 11 de novembro de 2004

UMA ALEGRIA PARA SEMPRE
(Mario Quintana)
As coisas que não conseguem ser olvidadas
continuam acontecendo.
Sentimo-las como da primeira vez,
sentimo-las fora do tempo,
nesse mundo do sempre
onde as datas não datam.S
ó no mundo do nunca existem lápides...
Que importa se - depois de tudo - tenha "ela" partido
ou que quer que te haja feito, em suma?
Tiveste uma parte da sua vida que foi só tua
e, esta, ela jamais a poderá passar de ti para ninguém.
Há bens inalienáveis, há certos momentos que,
ao contrário do que pensas,
fazem parte de tua vida presente e não do teu passado.
E abrem-se no teu sorriso mesmo quando,
deslembrado deles, estiveres sorrindo a outras coisas.
Ah, nem queiras saber o quanto deves à ingratacriatura...
A thing of beauty is a joy for ever
-disse, há cento e muitos anos,
um poeta inglês que não conseguiu morrer.


Tinha o habito de entregar para ele algumas belas poesias, sempre relacionadas ao momento da relacao dos dois. E ja que ha muito ela nao entregava nenhuma, resolveu copiar aquela que nao lhe saía de cabeça para entregar-lhe. Entregou, em uma folha de caderno, escrita de proprio punho, como sempre preferira fazer.

Ele levou para casa e leu. Mais tarde, ligou para o celular dela:

- Muito bom, doutora... (era assim que ele a chamava nessas ocasioes).
- Quer dizer que voce gostou entao?
- Gostei sim, é bela, mas ha uma certa propaganda do governo ali embutida.

Ela sabia que se referia a ela, mas respondeu séria:

- Nao, voce sabe que eu nao faria isso. Eu te entreguei a poesia por causa dos 2 primeiros versos: "as coisas que nao conseguem ser olvidadas, continuam acontecendo".
- Aham, sei.

Os dois sabiam que apesar do comentario dela, aquela poesia significara exatamente o que ele pensara significar. Mas resolveram deixar para lá. Ha coisas que sentimos tao claramente que prescindem da certeza de uma verdade para fazerem sentido.

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