domingo, 14 de janeiro de 2007

Ímpar

Tinha até arrumado algo para o sábado: sair com dois casais de amigos. O programa de pares, claro, tinha vindo a tona por sua propria negligencia em providenciar algo mais adequado para uma moça solteira fazer. So queria ter com quem conversar sem atrapalhar os casais. Sentiu que nao seria feliz naquela estrondosa diversao e resolveu que nao iria.

Vestiu-se, maquiou-se e saiu. Foi ao cinema. Assistiu o filme que quis, no horario de sua preferencia, entrou na fila quando deu vontade. Viu todos a sua volta, ficou imersa em seus pensamentos e em completo silencio. Todos estavam em grupo. Regozijava-se quando via algum corajoso também sozinho na sala, aguardando pelo filme. Em sua contagem, eram apenas três naquela sala.

Para ela sempre existira uma certa pressão social que impunha aqueles que prezavam estar sozinhos nas ruas, seja por habito ou por amor a flaneurie - seu caso - a obrigação de, ao menos no sabado, estarem no convivio de outros seres humanos. Mas se alguem criou expectativas de comportamentos, é porque previu que seriam violadas - pensava, já utilizando aqueles conhecimentos protojuridicos que digerira ao longo do curso de ciencias juridicas.

Pois foi e voltou do cinema sozinha e de onibus. Nao fosse pela violencia da maravilhosa cidade certamente seria senhora das madrugadas. Curtiu estar em sua propria companhia em meio a multidao. O burburinho acalentava o silencio de seu peito juntamente aos suspiros cansados do dia que embalavam os pensamentos.

Foi uma experiencia alegre e ao mesmo tempo dolorosa: entendeu, por fim, que a felicidade plena é dada aos pares.

Nenhum comentário: