domingo, 11 de abril de 2004

A bela poesia que traz uma reflexao e, ao mesmo tempo, um alento para o meu coracao.


Pecado Original
(Alvaro de Campos*)


Ah, quem escrevera a história do que poderia ter sido?
Sera essa, se alguem a escrever,
A verdadeira historia da humanidade.
O que ha eh so o mundo verdadeiro, nao eh nos, so o mundo;
O que nao ha somos nos, e a verdade esta ai.

Sou quem falhei ser.
Somos todos quem nos supusemos.
A nossa realidade eh o que nao conseguimos nunca.

Que eh daquela nossa verdade — o sonho a janela da infancia?
Que eh daquela nossa certeza — o proposito a mesa de depois?

Medito, a cabeça curvada contra as maos sobrepostas
Sobre o parapeito alto da janela de sacada,
Sentado de lado numa cadeira, depois de jantar.

Que eh da minha realidade, que so tenho a vida?
Que eh de mim, que sou so quem existo?

Quantos Cesares fui!

Na alma, e com alguma verdade;
Na imaginacao, e com alguma justiça;
Na inteligencia, e com alguma razao —
Meu Deus! meu Deus! meu Deus!
Quantos Cesares fui!
Quantos Cesares fui!
Quantos Cesares fui!

* Alvaro de Campos eh um dos heteronimos de Fernando Pessoa. Heteronimo nao eh o mesmo que pseudonimo: "nome imaginario que um criador identifica como autor de obras suas e que, a diferenca do pseudonimo, designa alguem com qualidades e tendencias marcadamente diferentes das desse criador" (dicionario Houaiss).

Fonte: Jornal de Poesia

(Perdoem-me pela falta de acentos, mas o blogger nao esta reconhecendo os acentos que coloco e acabo tendo de editar tudo. Fica horrivel, eu sei. Mas se nao fica tudo com aqueles caracteres estranhos.)

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