quinta-feira, 18 de março de 2004

Interludio 2

Depois daquele dia, finalmente os dois pareciam se acertar. Ela nao sentia mais a insana necessidade de obter dele as respostas que ele nao daria nunca. Estava calma. Ele parecia estar mais honesto e sincero com ela. Seus olhos diziam isso - e ela queria crer. Havia uma ternura incapaz de ser transformada em palavras.

Além disso, algo inédito: ele passava mais tempo na companhia dela. O sentimento dos dois deixou de viver dos encontros fugidios aqui e ali, pelos cantos, como se seus desejos fossem proibidos ou vexatórios.

Naquele dia os dois estavam juntos. Ela dizia, com um riso provocador enquanto caminhavam pelas ruas, que ele nunca fazia nada por ela enquanto ela só tinha olhos para ele. Ele falava da falta de dinheiro. Ela falava da falta de atenção dele.

Para sua surpresa, ele tomou uma atitude inesperada: pegou-a pela mão e mesmo sabendo que tinha de compromissos profissionais e nao poderia se atrasar, resolveu leva-la para um passeio.

Um passeio de bonde. Foram a Santa Teresa. Os dois desviaram seus olhares um do outro e nao conseguiam deixar de elogiar a beleza do local. As casas, aquela energia diferente do bairro reduto da malandragem carioca. E ele era o próprio malandro naquele dia.

Viram muitas coisas, todas inesquecíveis. Para onde quer que se olhasse, era possível ver um cartão postal.

Passaram um longo tempo admirando a paisagem despreocupada. Esqueceram dos inumeros problemas, das dificuldades, diferenças. Das eternas cobranças mútuas.

Não discutiram a relação e também nao precisaram falar para se entender.

Tudo virou um silêncio eloquente.

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