quarta-feira, 18 de julho de 2001

A verdade nua e crua ou Confissões ao pé do ouvido

Ah, mas ontem teve uma coisa boa: o puto do gatinho me ligou. Tava um anjo... Tava dando vontade de enche-lo de beijos e afagos. Que nada. Tava dando vontade mesmo é de estuprá-lo. É isso mesmo, sem meias palavras.

Mas eu não queria gostar tanto dele. Racionalmente falando, é mais saudável gostar de um cara simples. Tipo um pescador, saca? Filosofia de vida simples, sem crises existenciais ou momentos depressivos. Agora imagina alguém como eu: um conflito ambulante, que não se resolve dentro das próprias idéias e se perde dentro dos seus pensamentos. Pode dar certo? Pode. Está dando certo até agora. Não sei até quando, mas eu tou adorando. Eu gosto de viver perigosamente.

No fundo, eu tou com medo. Medo de quebrar a cara. Mas foda-se. Esse papo de que felicidade anda dissociada de sofrimento é conversa de mãe. Não dá, isso não existe. Só mãe mesmo para querer que o filho seja feliz sem sofrer. As vezes a gente tem de sofrer pra ser feliz.

Nesse ponto, eu não tenho medo não. Se eu tivesse de botar no papel quantas merdas eu já fiz e já superei...! Dava uma lista e tanto a julgar pelos meus 17 anos. A dona Renata, minha melhor amiga, costuma dizer que confia na minha capacidade de fazer merdas e mais ainda na minha capacidade de sair delas. É, talvez seja um abençoado dom.


Tou preocupada com o Thiago, meu melhor amigo. Ele tá no Rio e ainda não me ligou... Fiquei sabendo que ele tá com problemas no namoro dele. Sabe quem é o pivô? EU! Como eu? Simples: a verdade é que ele ainda gosta de mim, mas quer ficar com ela. Só que não dá, a gente não dá certo juntos: nos damos bem como amigos, apimentados, eu confesso. O problema é que o danado do garoto não aprendeu ainda que não se conta tudo para quem está ao nosso lado. Não tou falando de mentir não, porque honestidade é fundamental. Mas certas coisas, que não são relevantes, só causam insegurança na pessoa que está conosco. A gente só conta mesmo quando tá entalado na garganta... :) E ele contou para ela alguma coisa. Ela, justo ela, que já morre de ciúmes simplesmente por ouvir falar no meu nome. Ela não consegue entender que se eu quisesse estar com ele, eu já teria movido mundos e fundos para isso.
Complicado isso, né? As vezes as pessoas acham que certas coisas tem uma importância enorme para nós e temem perde-las. O problema é sempre esse: achar demais, saber de menos.


GREGÓRIO DE MATOS

É, ele mesmo. Um dos poetas pros quais eu daria. Essa poesia nem é capaz de mostrar bem o porquê, mas dá para ter uma noção.

No sermão que pregou na madre de Deus D.João Franco de Oliveira, pondera o poeta a fragilidade humana

Na oração, que desaterra............................ aterra
Quer Deus, quem, a quem está o cuidado.....dado
Pregue, que a vida é emprestado..................estado
Mistérios mil, que desenterra........................enterra

Quem não cuida de si, que é terra.................erra
Quem o alto Rei por afamado........................amado
E quem lhe assiste ao desvelado..................lado
Da morte ao ar não desaferra........................aferra

Quem do mundo a mortal loucura..................cura
A vontade de Deus sagrada...........................agrada
Firmar-lhe a vida em atadura..........................dura

Ó voz zelosa, que a dobrada..........................brada
Já sei, que a flor da formosura........................usura
Será no fim desta jornada...............................nada

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