quarta-feira, 8 de agosto de 2001

Gritos motivados/inspirados por Clarice
A F.B.

Roubei dos teus olhos as mais belas palavras que eu poderia te dizer. Mas não disse. Calei todas dentro de mim para poder ouví-las sussurar e beijar todo o meu corpo pedindo para sair. Cheguei a sentí-las beijando minha boca, minha virilha. Beijavam o mais profundo.

Dentro de mim, luzes bruxuleantes. Tremiam e apagavam-se quase e reacendiam motivadas pelos gemidos loucos e pela pulsação delirante dos teus batimentos cardíacos.

Eu, como peixe, nado nas profundezas fugidias do que eu sinto. Sou agora toda inconsciente e é por isso que me respeito dentro dos meus delírios impalpáveis. Descrições para além da palavra.

"Não gosto quando pingam limão nas minhas profundezas e fazem com que eu me contorça toda", diria Clarice. Eu já gosto de tudo isso e me contorço proferindo grunidos como os emitidos por uma fêmea em trabalho de parto.

E eu, eu estou parindo a mim mesma e ao mesmo tempo, sai da minha placenta (e das minhas entranhas) os dejetos do que já fui. Vomito-me toda.

É assim que, parindo-me dolorosamente parte a parte, eu parto e deixo o ato sem sua atriz principal. Eu sou o palco vazio.

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