quarta-feira, 1 de agosto de 2001

Hoje eu comecei a ler Clarice Lispector... Um livro chamado "Agua Viva". Alguém já leu? É que eu tou tentando seguir a minha meta de ler pelo menos 1 livro a cada 2 semanas. Tudo isso ainda por conta do tesão literário que me acometeu depois que eu terminei de ler "O apanhador no campo de centeio", muito bom, por sinal.

Eu nunca tinha lido nada da Clarice. Ontem, falando com o gatinho no telefone e comentando sobre um trechinho que eu tinha lido do livro, eu disse a ele que ela era meio sentimentalóide. Não é. Eu tava enganada. O gatinho obviamente ficou surpreso com a minha opinião e quase que decepcionado. Mas foda-se. Opinião é opinião. Acho que o importante mesmo é não falar sem conhecer, o mínimo que seja. Tou lendo o livro e mudei de idéia. Ela é foda.

Foda em 2 sentidos... Primeiro, pela dimensão do que ela fala, pelo que ela fala mesmo. É tão profundo e ao mesmo tempo proximo do meu mundo, que eu tou encantada. Segundo, pela dificuldade que é a leitura de um livro dela. O livro não tem uma história, com personagens, etc. Ela vai contando as coisas, tentando explicar uma proposta de escrita... A própria Clarice coloca a seguinte frase no inicio do livro, como forma de ajudar a "explicá-lo":

"Tinha que existir uma pintura totalmente livre da dependência da figura - o objeto - que, como a música, não ilustra coisa alguma, não conta uma história e não lança um mito. Tal pintura contenta-se em evocar os reinos incomunicáveis do espírito, onde o sonho se torna pensamento, onde o traço se torna existência." (Michel Seuphor)

Eu tava mesmo querendo catar uma professora foda de literatura que tem lá no meu colégio pra me falar um pouco desse livro e mais propriamente, de Clarice Lispector. Eu ainda não cheguei na parte da literatura na qual estuda-se a prosa contemporânea... E tou curioserrima para saber mais. Não tou me contendo. ;) Podia perguntar para a minha professora, mas acho que ela tá dodói.

Procês entenderem do que eu tou falando, vou postar aqui um trecho do inicio do livro que eu achei foda:

"Eu te digo: estou tentando captar a quarta dimensão do instante-já que de tão fugidio não é mais porque agora tornou-se um novo instante-já que também não é mais. Cada coisa tem um instante em que ela é. Quero apossar-me do é da coisa. Esses instantes que decorrem no ar que respiro: em fogos de artifício eles espocam mudos no espaço. Quero possuir os átomos do tempo. E quero capturar o presente que pela sua própria natureza me é interdito: o presente me foge, a atualidade me escapa, a atualidade sou eu sempre no já. Só no ato de amor - pela límpida abstração da estrela do que se sente - capta-se a incógnita do instante que é duramente cristalina e vibrante no ar e a vida é instante incontável, maior que o acontecimento em si: no amor o instante impessoal jóia refulge no ar, glória estranha de corpo, matéria sensibilizada pelo arrepio dos instantes - e o que sente é ao mesmo tempo que imaterial tão objetivo que acontece como fora do corpo, faiscante no alto, alegria, alegria é matéria de tempo e é por excelência o instante. E no instante está o é dele mesmo. Quero captar o meu é. E canto aleluia para o ar assim como faz o pássaro. E meu canto é de ninguém. Mas não há paixão sofrida em dor e amor a que não se siga uma aleluia."

(Clarice Lispector in "Água Viva")


Gostaram? Eu espero que sim... :)))

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Coisas que me deixam puta

Eu tenho umas manias engraçadas... E num gosto quando tentam se meter nas minhas manias.
Por exemplo, eu SEMPRE ouço cds na ordem. Rarissimamente, eu ouço uma música só. E quase nunca coloco no "shuffle" para que o aparelho de cd escolha a ordem das músicas. Acho péssimo.
Péssimo porque se o artista colocou as músicas naquela ordem, ele teve uma intenção. Óbvio que teve... Cd também tem inicio, meio e fim.
Meu pai vive me perguntando porque eu não coloco o cd em shuffle e não entende quando eu falo essa parada da ordem intencional do artista. Acha graça. Eu não vejo graça nenhuma nisso. Fico irritada, isso sim. Quer fazer o favor de me deixar ouvir o cd do MEU jeito? :P Que coisa!

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Precisamos parar com essas coisinhas...

As pessoas tem a péssima mania de nomear as coisas para entende-las. Como se o nome explicasse tudo...! O nome é apenas uma forma de identificação; ele não diz nada de profundo sobre uma coisa e/ou sentimento. Quer exemplo?
A pessoa fala "eu amo fulano" achando q isso explica. So explica q o q ela sente eh muito forte, tirando isso nao diz nada a cerca da intensidade, forma, tempo. E existem várias formas de amar.

Depois de um tempo, principalmente em fins relacionamento, é classico que as pessoas digam "eu não o amava de verdade". Ué... como é que se ama de verdade? E mais? Como você tinha certeza de que o amava? As vezes o tempo e a convivência não são suficientes para determinadas certezas... A gente tem de pensar bem no que fala pras pessoas, pensar no que realmente sente. Explicar um sentimento com várias palavras. Olha só que coisa boba/fofa que eu pensei... "Você me traz a mesma felicidade que uma criança sente ao comer algodão, num domingo agradável num parque..." Coisas assim. Várias palavras evitam os erros da taxação categória desde ou daquele sentimento.

Outra coisa q me incomoda...
Essa mania que temos de achar q todo sentimento precisa ser reciproco.
minha amiga mandou um cartao prum "rolo" escrito "i love u" e ficou puta qdo recebeu um "thanx"
Po... o cara pode nao ter sentido vontade de dizer eu te amo tb... ou nao sentir isso e por isso nao disse. Mas q coisa!
Não temos de encanar com isso não... É mais importante demonstrar o que sentimos do que dizer... Isso vale pros outros também.
Mais uma vez, forma de poupar tempo no divã.

Demonstrar e falar pouco sobre o que eu sinto... Prioridades para mim... :)

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