domingo, 23 de setembro de 2001

Porque eu sou uma pergunta. Sou até ingênua porque me entrego sem garantias. (C. Lispector)

E se eu me calasse, você entenderia? Penso que não e isso me faz pulsar lentamente porque é enorme meu medo de ser incompreendida porque se sou uma pergunta, tenho múltiplas respostas.
Eu respondo o que tu quiseres ouvir, mas isso me faz calar porque não ser eu mesma me traz uma dor.

É a dor de não ser aos teus olhos o que eu sou ao pulsar. É o medo de não ser entendida quando tudo o que eu quero é ver teu olhar decifrar o meu. E não há decifra-me ou devoro-te porque não há a reciprocidade necessária para uma antropofagia sentimental e/ou ideológica. No seu jogo o que vale é o decifra-me e confundo-te. Dessa forma, tanto faz decifrar-te ou não, porque de ambas as formas eu estou confusa. Mas assumo com a ingenuidade de uma criança esse meu enorme medo de ser feliz. E acho que talvez possa assumir por ti esse enorme medo que tens de te conheceres. Acho-me igualmente prepotente por julgar saber de ti algo além dos meus olhos. Porém, te conheço em todos os teus movimentos, olhares e sorrisos e aprendi com o tempo a ler teus pensamentos e adivinhar tuas passadas pela vida. O problema é que a cada passo teu, em sinto pisar em mim algo que eu não sei colocar em palavras. O passo, a ausência do passo, o duplo-passo...

Eu conto tudo isso com uma certa dor, a mesma que sentimos quando deixamos um desabafo se formar. Eu conto e falo com a cor vermelha porque ela expressa bem o que eu sinto. Todos os meus gritos saem para ti com um selo vermelho e um carimbo de “leia-me se fores capaz de entender-me”. Não sei se tu entendes. O que eu sei é que se meu grito chegar com sentido ao teu ouvido, eu já me dou por satisfeita. (Pena que as palavras não gritam no papel.)

Por que eu sou assim? Porque sou feita de perguntas. Porque eu quero ser aceita dentro das minhas possibilidades de resposta. Estar prepara para nós é estar pronto para qualquer resposta, a qualquer momento.

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