sábado, 15 de setembro de 2001

Acabei de ler "Água Viva", da maravilhosa Clarice Lispector. Eu não a conhecia, peguei o livro do nada, ao ver que estava quieto na estante de livros indefinidos e nao-sistematizados do meu pai. Ele nunca deve ter lido, aposto.

Demorei 1 mês para ler um livro de 97 páginas. E vou demorar o resto da vida entendendo-o...

Fica aqui mais um trecho com o qual eu me identifiquei demais para que vocês possam partilhar do que falo. Mais um trecho muito "eu".

"Mas eu denuncio. Denuncio nossa fraqueza, denuncio o horror alucinante de morrer - e respondo a toda essa infâmia com - exatamente isto que vai agora ficar escrito - e respondo a toda essa infâmia com a alegria. Puríssima e levíssima alegria. A minha única salvação é a alegria. Uma alegria atonal dentro do it essencial. Não faz sentido? Pois tem que fazer. Porque é cruel demais saber que a vida é unica e que não temos garantia senão a fé em trevas - porque é cruel demais, então respondo com a pureza de uma alegria indomável. Sejamos alegres. Quem não tiver medo de ficar alegre e experimentar uma só vez sequer a alegria doida e profunda terá o melhor de nossa verdade. Eu estou - apesar de tudo oh apesar de tudo - estou sendo alegre neste instante-já que passa se eu não fixá-lo com palavras. Estou sendo alegre neste mesmo instante porque me recuso a ser vencida: então eu amo. Como resposta. Amor impessoal, amor it, é alegria: mesmo o amor que não dá certo, mesmo o amor que termina. E a minha própria morte e a dos que amamos tem que ser alegre, não sei ainda como, mas tem que ser. Viver é isso: a alegria do it. E conformar-me não como vencida mas num allegro com brio."

(Clarice Lispector)

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