domingo, 14 de outubro de 2001

Um texto meu.

Ritmo circadiano*

Será isso mesmo que eu quero?, ela se perguntou. Ah!, respondeu-se e saiu deixando tudo para trás.

Pela 1a. vez, ela era incapaz de sentir magoa ou dor: era um ser livre de qualquer sensação. O que isso representava? Só o tempo diria. Porém, ela era capaz de sentir seus instantes e foi aí que percebeu que tinha sonhos e estes tinham anseio por se concretizar.

Olhou para um lado e outro antes de sair vagando. Tomou um ônibus. Leblon, Jardim Botânico, Botafogo, Flamengo, Lapa. Desceu. Mas as respostas que queria não estavam naquela boemia. Sentou num degrau e murmurou um, Se não é aqui, onde será?

Tomou o ônibus de volta para casa. Lapa, Flamengo, Botafogo, Jardim Botânico, Leblon. Sentou-se a beira da cama, pensou por uns instantes. Nada concluindo, deitou-se e dormiu.

No dia seguinte, ela já não se lembrava de mais nada. E fazia tudo outra vez.


* O termo é biológico. Esse ritmo dá conta das necessidades fisiológicas realizadas pelo nosso organismo, que obedecem a períodos regulares. Isso é controlado através do hormônio melatonina, secretado pela glândula pineal. Esse hormônio regula o relógio biológico. Para que esse hormônio seja produzido, é preciso que haja uma fase escura (leia-se, sono).

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