quarta-feira, 21 de novembro de 2001

One way: the wrong way

Eu tinha ódio. Ainda assim, beijava-lhe a boca. Meus dedos apertavam seu braço em um pseudo-abraço tão forte que poderia até deixar umas marcas. Mas eu não queria. Não queria porque pretendia manter esse ódio secreto e ir alimentando-o aos poucos na vil esperança de extinguir qualquer tipo de amor que pudesse existir ali.

Essa cena se repetiu por meses e eu sempre falhei. Eu não conseguia gritar para ouvir-me, de tão absorta e transtornada. Como era possível amar e odiar ao mesmo tempo? Odiar e não conseguir se afastar? Amar e temer estar perto? Pensando em tudo isso, as lagrimas – únicas respostas que eu tinha de mim mesma – rolavam e ardiam pelo meu rosto, fomentando meu ódio. Gritos e mais gritos dentro de mim, todos sepultados: eu fazia tumulo dos meus meus sentimentos, um a um, sufocando-os com um calar pá de cal a todo momento.

Chegou um dia que não chorei mais tais lagrimas. Naquele dia, eu estava quieta em meu canto, refletindo sobre qualquer assunto que com o tempo havia se tornado dispensável. Eu não chorei tais lagrimas porque eu não sentia nada.

E foi de tanto calar para não sofrer que eu calei para sempre. Essa minha voz rouca e surda não dizia mais nada, nem queria dizer. Ainda assim, apesar dos meus esforços, o vazio do meu olhar teimava em explicar o que eu vivi.

Nunca consegui algo além de sombras de um passado, aprendizados inuteis e a verdade que era uma só: eu me tornara oca por dentro.

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